[Você pode ler este texto ouvindo essa canção.]
"Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha." Mt 7, 24-25
Eis que
fui levado a uma terra deserta, talvez uma ilha ou uma orla. Eu estava com os
pés na areia da praia. Via o mar, sentia o vento... E me mostraram uma casa à
beira-mar. Talvez fosse meu anjo da guarda que estava comigo ali. Construí-la
ali foi muito fácil. Não houve esforço porque a areia é fofa e viver diante das
belezas litorâneas não há do que reclamar. Mas a casa estava construída na
areia. Não duraria a primeira maré alta com suas ondas violentas de um dia de
tempestade. Em seguida me mostraram terra a dentro. Observei o que tinha após a
faixa extensa de areia e vi uma montanha rochosa. Lá no topo era o destino que
me chamaram a subir. Seria um bom lugar para construir - me disseram - Mas a
subida não seria tão simples. Primeiro eu teria que renunciar a vida fácil e
tranquila que tinha na praia. Nada fácil, mas abandonando-a sem olhar pra trás
seguimos caminho.
O trecho era mais longo do que eu imaginava. O
chão era muito irregular. E à medida que saíamos da terra e pisávamos já em
solo rochoso piorava. Às vezes era escorregadio, o calor incomodava e o cansaço
da caminhada somado à ansiedade da espera desse “algo verdadeiro” já me
desanimava. No começo a esperança de algo melhor me movia, mas agora o que me
fazia trocar passos era mais a obediência.
Tendo
alcançado certa altura eu disse: “Acho que chegamos. Aqui é bom. Alto o
suficiente para que a maré não me alcance.” Erguendo minhas paredes eu sentia o
vento suave e fresco que corria e aquilo me deixou inquieto e com sede de mais.
Larguei aquele início de obra e continuei a subir a montanha. Motivado. A essa
altura a praia não fazia mais falta. E subia mais. Porém, novamente o cansaço,
os incômodos do caminho me fizeram parar e achar que aquela altura estava boa –
Subi mais que da outra vez. Está ótimo por aqui! – eu pensei...
Daquela altura eu já enxergava a praia. E eu
fui construindo lá em cima e sempre olhando a orla, ouvindo o barulho calmo do
mar. Quando esquentava e eu não sentia aquele vento fresco que me motivou a
subir mais eu me pegava admirando a praia e me questionando porque eu saí de lá
e abri mão do litoral. Como não viver diante de toda beleza diante do mar? A
areia é fina e tão branca... O mar, ah o mar! Eu poderia argumentar
detalhadamente os benefícios de viver tranquilamente ao sabor das ondas... Lá
de cima vi a casa da areia desabando e sendo levada pela maré alta. Um alívio
me tomou, pois não aconteceria na casa nova, já que construí minha casa na
rocha. Engano meu, pois com o foco na praia eu não cuidei de fazer as fundações
da casa. Mesmo na rocha ela seria levada pela tempestade.
E
agora? O desespero bateu. O que faço? Estou perdido. Estou na rocha, no meio da
subida talvez... era pra eu estar me sentindo firme e seguro aqui, mas pelo
contrário, me sinto mais vulnerável do que nunca. O barulho do mar havia tomado
meus ouvidos e o desejo de voltar me cegou. Mas eu grito e clamo a misericórdia
do meu Senhor e Ele me ouve com seu infinito Amor. E eu paro para ouvi-lo. Manda
que me mostrem como deve ser construída minha casa. Como eu devo construir a
minha casa na rocha. Eu devo construir. Ninguém mais. Ele me dá toda força e
material necessário, mas precisa ser erguida por minhas mãos. E Não basta que
seja na rocha. Precisa estar fundamentada Nela. Preciso cavar as fundações e
isso cansa. Afinal estou me aprofundando em algo que é sólido. E a cada buraco
feito uma parte de mim fica ali dentro. Precisa ficar. Ele usa das minhas
misérias, da minha dureza de coração para fazer uma liga forte. Quanto maior a minha
entrega mais forte fica a fundação.
Depois
de muito suar nas fundações vem a base que precisa ser bem feita para que não
se erga uma casa torta... Seus ensinamentos vão dando nível e direção para que
nenhuma parede se erga de maneira errada. Nesse ponto a praia não faz mais
parte do meu pensamento. A cabeça está a mil com o projeto da edificação da
casa! Cada detalhe faz a diferença e preciso dedicar tudo para vê-la crescer.
O topo
ainda está longe, e uma visão incrível me espera lá em cima. Mas que eu vá
construindo, crescendo, descansando e subindo mais um pouco. Construo novamente
e assim que eu vá subindo... Mas sempre com o pensamento de que pra "crescer
pra cima" eu preciso me aprofundar na ROCHA crescendo pra DENTRO!
"O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu
libertador. Meu Deus é a minha rocha, onde encontro o meu refúgio, meu escudo,
força de minha salvação e minha cidadela." Sl 17, 2